Medos


Acendo o isqueiro. O cigarro está do lado errado. Isso que dá fumar no escuro da minha varanda. Quase acendo o cigarro pelo filtro. Viro o cigarro e o acendo. O primeiro trago é o melhor. É aquela sensação de caubói nas pradarias americanas. Pena que ele morre de câncer muitos anos depois. Pena que não tenho medo da morte.


Fumar no escuro é uma arte que venho desenvolvendo há alguns meses. A escuridão da minha varanda tem se tornado cada dia mais interessante. O poste da frente de casa não funciona mais, ligar para a empresa de energia elétrica? De maneira alguma. A luz urbana estraga minha visão das estrelas. Agora fumo deitado na varando com o rosto a procura das Três Marias, cintura do centauro. Vejo a ponta de seu arco, sua cabeça e suas patas. Sua seta aponta para a Ursa Menor, ou será outra estrela? Vou conferir no Google.

Engraçado havia uma estrela a mais no centauro. Não, essa estrela se movimentava, e não era o efeito das nuvens carregadas pelo vento. Meus olhos se arregalam. Acompanho a estrela que se movimenta com rapidez. Ela cruza o céu. A perco de vista com a enorme quantidade de prédios que há no nobre bairro que moro. Estrela-disco-voador? Estrela-avião-internacional? Que importa? O efeito na imaginação é o que importa.

Há um barulho estranho no escuro. Olho para o provável local da estranheza. Está escuro, não tem como ver nada. Mas ao olhar escuto novamente o barulho que se tornou regular, era a torneira do tanque que nunca se fechou completamente. O efeito da imaginação é o que importa.

Sinto algo felpudo roçar no meu pé. Não me assusto de imediato, penso logo em formigas. Mas desta vez não era. Era a gatinha que buscava insetos no jardim que no cio adora roçar por todos e por todas as coisas. Gargalho controladamente, todos dormem. Somente eu funciono no escuro. O efeito da imaginação é o que importa.

Ao pingo da torneira e ao pular da gatinha na grama é adicionado um novo e estalado som. Dessa vez tem que ser o ladrão, que sempre espero. Não. Não era. Era o velho estalar da madeira do velho telhado ao efeito do frio que se esquentou durante o dia. O efeito da imaginação é o que importa.

Finalmente, sinto um toque gélido e ósseo em meu ombro. Será a morte? Além do tétrico toque, também sinto o fio de algo cortante em minha garganta. Sorrio, infelizmente não acredito na morte. A morte é um conjunto de acasos. E o acaso é o nada. E o nada não existe. Desacredito. O corte da foice força minha garganta. O líquido viscoso que insiste em correr em minhas veias corre pelo meu peito até o chão. A morte está a brincar comigo? Acredito desacreditando. O cigarro já está no fim, sei pela experiência de sentir o calor pelo filtro. Bato a última cinza e arremesso a bituca o mais longe possível. Ah! Sim! A morte? Aprofundou o fio de sua foice em minha garganta. Mas infelizmente não acredito. Depois da morte, vem uma morte pior. O esquecimento. E alguém como eu será facilmente esquecido. Tenho um leve medo por um segundo, não consegui publicar meus contos e poemas. Legarei a lembrança para um público inexistente. Não é medo, é decepção. Pego em sua mão gelada e digo: “Vamos?” Ela me olha com desdém, prefere o medo nos olhos do que a aceitação. Peço desculpas, também se decepciona. Olhamos um nos olhos do outro. E gargalhamos, todos dormem e não me importo. É o preço que se paga pela imaginação. E o efeito da imaginação é o que importa.


Salamandra

Senti minha cama pegar fogo. Era um calor tremendo. Não entendi o porquê. Tirei as cobertas, liguei o ventilador que rangia e o calor somente aumentava. Tirei todas as minhas roupas, peça por peça, até sobrar somente eu, inteiro, intacto. Fervendo. Olhei ao redor, o quarto estava até vermelho, era como se eu pudesse imaginar como seria dentro de um forno elétrico. Resolvi levantar. Angustiado. Vermelho. Olhei embaixo da cama, havia um casulo. da cor de sangue. Não me importei.
No outro dia, o quarto estava mais quente. E quando olhei para a parede da única janela que há aqui, vi uma larva vermelha com todas as suas centenas de pés. Subiu e o calor fervilhava. A larva rubra subiu, e subiu. E parou na divisa entre o teto e a parede. Sua cabeça era horripilante... eu sabia que poderia cuspir fogo a qualquer momento. Não ousei tocá-la. Novamente  conferi embaixo da cama e o casulo ainda estava lá.
Dormi transpirando. Estava mais calor. Sem roupas eu respirava ofegante. Abri a janela, o vento que estava frio ao entrar queimava meu rosto. Minha cama tremeu. Olhei era o casulo que se mexia. E a larva vermelha se dependurou no meu teto feito acrobata num número em chamas.
Quando acordei, olhei para minha mesa logo abaixo da ígnea janela. Lá estava uma cabeça monstruosa, era a cabeça da larva que havia caído. Minha cama tremeu. O casulo se movia. Olhei para o teto e um casulo alaranjado havia se formado.
A cabeça evaporou-se de minha mesa como cinzas que ficaram espalhadas pelo chão que queimava meus pés, como numa panela ao fogo. Dancei um tango escaldante. Me assoprei e me abanei. Não adiantava, o ar estava quente. Olhei no espelho e meu rosto estava todo vermelho, meus lábios ressecados, feridas se abrindo e sangrando. Em volta dos meus olhos cascas de feridas se espalharam, pústulas ofegantes se anunciavam. Toquei no casulo com o objetivo de arrancá-lo de baixo da minha cama, mas queimei meus dedos, bolhas enormes se formaram. Mal pude fechar a mão.
Minha cama tremeu, mais uma vez. E por outra vez o casulo se movimentava.

Havia me acostumado ao tom vermelho de meu quarto ou era meus olhos que sangravam? Não saberia diferenciar. O inferno proeminente que me encontrava se tornou até um céu de calmaria, minhas garras já resistiam mais ao fervor. A cama tremeu e ouvi um baque. Tremi. Não dançavam mais aquele tango flamejante porque havia uma grossa casca em meus pés. Olhei para debaixo da cama e tudo ficou claro: do casulo saiu uma salamandra. E ela me olhou terna, um bebê-salamandra. Sorri, meus dentes agora crescidos assustavam a qualquer mortal, mas não a ela. Meu teto tremeu. O novo casulo se mexia.
Na outra noite, não senti o calor, mas meus livros pegaram fogo, meus aparelhos eletrônicos estavam todos retorcidos. As roupas já não me cabiam, devido às asas que cresceram nas minhas costas. A salamandra saiu debaixo da cama e se enroscou no meu pé. Seu calor não me incomodava mais. Sorri.
No espelho só havia um demônio com uma salamandra enrolado na coxa. Eu havia sumido há alguns dias. Saí incólume de toda aquela situação. Acariciei o outro casulo e ele se movia, não havia mais necessidade de arrancá-lo e atravessá-lo pela janela. Juntei as cinzas de sua cabeça e sorvi pelo nariz a me drogar com todo aquele fervor.
O teto tremeu, e o casulo se rompeu. Segurei a nova salamandra na queda. Ela me olhou agradecida. Sorri outra vez... percebi que minhas garras estavam maiores, quase a machuquei. Ela se enrolou imediatamente em meu braço.
Já não precisa de mais nada que havia no meu quarto, minha cama agora era carvão, minha mesa se desfez e todos os quadros havia se desfigurados. Meu autorretrato? Agora era uma bolha irreconhecível.
Sorri mais uma vez, meus dentes roçaram em meus lábios, mas minha pele era tão dura que nem senti seu espetar. Sentei, as duas salamandras se acomodaram melhor em meus membros. Estava nu e era como se fosse daquela forma singela o tempo todo. A verdade se revelou sob a forma de derretimento. Senti-me profundamente eu. Quebrei o espelho porque ele mentiu cruelmente para mim todos estes anos.


Personagem

a André Luiz

Há um personagem invisível em todas as minhas narrativas. Ele é um tanto cubista, quanto hermético. Ele só se permite descrever pelo que diz. Não ouso narrar seu corpo, sua história, seu psicológico. Ele não me permite. Aparece, diz algo e se vai. Desvanece da mesma maneira que apareceu. Ao terminar um texto, releio e ele está ali, impassível, invazável, instransponível. Junto os ângulos e nada se forma. Hermético e cubista.


Reli todos os meus textos a fim de defini-lo, achá-lo, determiná-lo, mas não consigo, sua indizível presença sempre se faz ausente no fim. Vou entendo-o, e quando penso que tenho alguma conclusão sobre, me sinto no vazio do não ser novamente. Ele vem e mais uma vez pisca, sorri aquele sorriso inconfundível que só ele tem. Mofa da minha falta narrativa. Sorri para minha incapacidade de flagrá-lo no salto que procede em minhas histórias noturnas.

Assim, vou me trucidando aos poucos, com vontade de achá-lo totalmente. Ele seria o ser a quem procuro há tanto tempo? Viajo sempre por lugares nunca antes transpostos e sempre o tive aqui, dentro de minha própria palavra, minha linguagem encenada? Ele não vai aparecer nessa narrativa, não o permito. Já tomou por demasiado meu verbo, meu destempo, meu ressentimento. Tenho raiva dele, quero vê-lo fora de toda expressão poética a que me proponho. Mas não posso. Tenho medo. No final, será que ele vai me oferecer a pérola que tanto busquei nessa viagem que procedo de norte ao sul do meu corpo? Silêncio.

É ele. Mais uma vez apareceu para me descentrar, desconcertar, desconstruir. Sorriu, entortou a cabeça daquele jeito especial e me ofereceu os braços. Me aproximo, creio que não percebe minha irritação. Abracei-o e lhe beijei o pescoço. Tinha vontade de mordê-lo. De ver seu sangue jorrando por todos os lados me banhando, e, finalmente, me mostrando o que havia de mais íntimo do seu ser impegável.

Contive-me, somente beijei seu pescoço, meus lábios se ergueram num sorriso simples. Por que não vem comigo? Não me aceita? Não se revela? Dê me um pouco do que eu preciso. Do que eu desejo. Me retire desse turbilhão enfurecido que toda a minha existência se tornou. Salva-me. Meus olhos demonstram o sentimento que expresso por palavras? Só ele poderia dizer, porém não o diz, nem mais sua voz se faz presente. Já se foi como sempre vai. Para aquele reino onde reina intocável.

Não tenho mais forças para prosseguir. As palavras me faltam, por sua falta. A raiva passou, agora, fico a espera de seu próximo retorno, de seu próximo sorriso. Só que ao invés de um abraço, forçarei um beijo na boca. Não posso ter seu sangue em meu corpo, terei pelo menos um líquido íntimo em mim. A saliva há de me revelar o que desejo? Será dividido comigo metade daquele segredo?

Fico a espera, por favor, retorne!

Na garganta do Oceano

dentro da garganta do oceano
me embalo
naquele refluxo asqueroso
do recaldo da própria ignorância
é o vício do desejo
só ele
ele me afunda cada vez mais

monstros com luzes próprias
já têm minha cabeça
dentro de suas mandíbulas
de dentes serrados
e não posso fazer nada
além de cerrar os olhos
e fingir desesperadamente
que nada aconteceu

é o vício recalcitrante
do desejo
é querer ser maior que a garganta
e ser por ela engolido
sem a menor cerimônia

agora que aqui estou
o ato é único
entrega total ao suco gástrico
do oceano
aos dentes de monstros
até mesmo dos não iluminados
não há salvação, nem própria
é o fim em autototaldesesprezo

Olhos azuis

Onde está toda a sinceridade que se procedeu aqui? Meu personagem não pode olhá-la nos olhos. Ela não os tem como as nuvens. Nem as nuvens com seus magníficos e estelares olhos têm aparecido por aqui. Só chove, sinceramente chove. Ele abriu a janela tantas vezes para procurar o céu, e somente pode entender que chovia. Se enclausurou em si mesmo. Abriu um livro e outro. Abriu cinco livros e os fechou. Buscava um poema, até que ele bateu na porta. Era um poema bem acabado. Todo rimado de olhos azuis, o desejo em métrica. Sorriu, um sorriso tão escandido que corou. A surpresa de ver aqueles olhos, profundamente, o deixou inquieto. Pediu que entrasse e entrou, tirou o casaco e sentou-se no sofá. Fechada a porta, sentou na poltrona. Os olhos azuis disseram que não vieram para deixá-lo perturbado. Ele acreditou desacreditando. Somente a necessidade do olhar o desassossegava. Era assim sempre. O silêncio interrompido pelos dois ao mesmo tempo, acabou se tornando silêncio mais uma vez, queriam falar, mas gentilmente cederam a vez um para o outro, e gargalharam com o atrapalho da situação. A gargalhada formou uma nova poesia. Da poltrona para o sofá. É muito tempo sem se ver. O desejo, apesar de odioso, era maior a cada dia. Como ele teve coragem de viajar por tanto tempo? Deixando assim só a chuva, sem estrelas? Tinha necessidade. A volta que deu pelas estradas o elucidou em sinceridade. Os olhos azuis o amavam sinceramente. Ele baixou a cabeça, sem graça. Pensara tantas coisas e tantas possibilidades, até mesmo desejou a morte dos olhos, mas se entregou, em um beijo demorado. As roupas caíram, os pelos se eriçaram. O desejo cedeu lugar ao ato. Dividiram o dom. Depois abriu a janela, a chuva estava lá. O vento frio entrou, os papeis da escrivaninha voaram. Os olhos azuis passaram pelos papeis que se assentaram perto dele. É um romance? É a vida! Ele o traíra. Eram os olhos azuis que agora abaixaram. Tinha o abandonado sem deixar nenhum aviso. Mas, era o tempo que ele... É verdade, nada de avisos. Tivera o que merecia. Estava tudo acabado ou era um novo começo? Era um começo, diferente. Mas os papeis tratam da afetação em emoção da traição! Sabe que se expressa como em um romance, o amargo se torna doce, a miséria se torna produtiva. Sim, ele o sabia. Os olhos azuis na janela não apreciavam a chuva, mas a si mesmo no reflexo da janela, os pelos se eriçaram, agora pelo frio. Fechada a janela foi para a poltrona. Não havia um poema gargalhado para aquele silêncio. Só uma decisão. Imprudente? Talvez. Pensou no que é o amor, o desassossego, a miséria. Levantou-se e seguiu até a escrivaninha. Ele estava ali, recolhendo os papeis e os reorganizando-os. Abraçou-o e disse que nada mais importava, que estava de volta e não sairia jamais. O som da chuva na janela deu o ritmo jâmbico ao poema. A sinceridade fora embora pela porta principal. Abraçou os olhos azuis e disse que os amava. Sem olhar a sinceridade nos olhos, visto que ela não tinha, selou ali sua infelicidade eterna. Promessas e entregas. Desceu seus dedos pelas costas dos olhos azuis e apertou o abraço, era apertar contra o peito a miséria, o desassossego, nunca o amor. Viveu assim o amargor adocicado pela narrativa. Recolheu o último papel, e num gesto encenado rasgou-os todos. Um esquecimento que permanece na memória. O outro, ali produtivo nos papéis, também não retornaria. Miséria por miséria, escolheu a que os olhos azuis poderiam lhe oferecer. Sem sinceridade o amou. Narrou docemente todos aqueles meses. Sem sinceridade, sem nuvens a olhar. Só a chuva, chovia sinceramente.

Rosa branca (conto de aniversário)


a Izolina Moura de Souza, minha avó e Doutora em Formigas

Ela mandou-me pegar uma tesoura no pote de barro em cima da estante. Corri, como sempre corri pela casa em que cresci, abandonei e agora retornei. Posso ver-me correndo por todos os cantos, pulando, dando um salto e cortando o joelho. Olhe a cicatriz. Voltei com a tesoura. Fomos ao quintal, bem ali estava a roseira branca. Apreciava o modo como ela se curvava perante as rosas brancas, enormes a desabrochar e as cheirava. Não a imitava. Achava o ato ridículo. Ela pegou a tesoura da minha mão e me ensinou onde cortar os talos das rosas brancas que já se despetalaram pelo vento, pelos animais roçando, pela própria brevidade da vida. Só lhes restavam o miolo, envelhecido, sinal da morte. Cortou dois talos e entregou-me a tesoura. A me observar, cortei todos os outros. Me indicava onde estava aqueles escondidos os quais minha desatenção costumeira nunca iria encontrar. Nos próximos dias, cuidei de todas as roseiras de casa, a tesoura havia se mudado de sua casa para a minha. Era o artefato mágico, com o qual daria mais vida a todas aquelas roseiras pelo corte mortal que procedia. Até o dia em que já não alcançava as rosas de cima. Estavam altas para uma pequena criança que só veio a ter a altura que tenho depois da adolescência.

Um dia, quando ela mesma percebeu que já não as alcançavam, tomou o facão e decepou todas as roseiras, deixando só uma parte de seus galhos verdes. Pensei que ela não as queira mais. Havia tratado mal as roseiras e a punição foi a morte de todas. Era a morte total. A morte que não tinha mais volta. Senti-me totalmente culpado. Porém, era mais uma lição que me mostrava. Não perguntei absolutamente nada, ela apareceu como pela própria experiência que só muito depois vim a entender. Dos galhos verdes nasceram outros galhos menores e em pouco tempo mais rosas e mais saudáveis. Continuei a podá-las até entender o dia em que deveria novamente decepá-las até não sobrar flor ou folha.

Ela tinha Doutorado em Formigas cuja base na filosofia alemã era tão íntima e profunda que não tivera necessidade de abrir um livro de Heidegger sequer. Nietzsche? Nenhuma linha. Nestes pequenos gestos de um doutorado bem feito, aprendi todas as lições. Mas como em todo e qualquer estudo em Formigas, não dei valor a lição no momento do aprendizado. Todo o entendimento é a posteriori. As lições somente tornam-se vivas pela memória.

Ela morreu. E todas as roseiras foram com ela. Não dei o valor necessário as suas palavras sobre rosas ou formigas. Não chorei sua morte. Porém, como a roseira decepada, sem folhas ou rosas, ela nasceu em galho e perguntou: “Você acha que eu não te amo?” O que fazer a não ser chorar? Pela primeira vez na minha vida, já com mais de duas décadas de vida, chorei. O interdito se desfez e pela primeira vez, também, entendi o que era o sentimento. Não me doutorei em formigas. Não poderia. Somente guardo suas lições, para rememorá-las e flagelar-me com a minha cega desatenção costumeira. Hoje me curvo perante rosas brancas e as cheiro, no gesto mais ridículo de todos os tempos.


O mundo destruído (desengavetando poemas velhos - data? desconhecida)

Não que eu seja apocalíptico
Mas que está.
Está!

Emputecido (desengavetando poemas velhos - data? desconhecida)

Poetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãopoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãopoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãopoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãopoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãopoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãopoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãopoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãopoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãopoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãopoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãopoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãopoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãopoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãopoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãopoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãopoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãopoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãopoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãopoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamãpoetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamão

UFA!

Poetaeaquelequetemboamemóriaoupapelecanetanamão

Revisando...

Poeta é aquele que
Tem boa memória
ou papel e caneta na mão

Ligações nada perigosas (desengaventando poemas velhos - março de 2008)

Ferreiradrummonisces
A luta corporal da rosa do povo
Quintanacamonadas
A rua dos cataventos desconcertada pelo mundo

E todas as relações vão se desfazendo
Em desconstrução em volta do mundo

São lutas
São arriscadas
São amigas

Em face de todo o desmundo das gramáticas no chão
Vejo o azul de Aires acomodados de um só desejo

A poesia de uma terra, uma única Terra
Pode o mundo fazer-se em mil
Mas todas as relações continuam nada perigosas

Braffabreuses
Cipestres mofados
Marinettiskovisk
De um cubofuturismo arriscado

O homem de barro

Essencias mistas de toda a origem
Verdadeira paixão da criação
Pura matéria primordial
Formam a disforme forma de homem de barro
Nítida, mas distorcida

Irradiam forma
Constroem virtudes defeitos vícios
Ele se in-forma
Da maneira decidida

Ele se deixa moldar
Desvirtua a paixão a origem o primórdio
Nitidademente retorcido
Longe da distorção

Sapecam fogo
Para enformar no molde desejado
Porém se esquecem
Seu coração é de pedra
Não seca, está formado

Rígido pelo ígnia despaixão
Pode ele permanecer
Porém chega um momento
Quando seu coração
Ciente de sua retorção
Distorce à forma original
Apaixonada e pura
Distorção.

Ele cansa da forma?
Não! Somente é distorcido
E nada mais.