o abrir dos olhos

Acordar-te é meu único desejo. Ver a face do sono reposta sobre a tua e ter a primazia do primeiro sorriso do primeiro olhar do primeiro osculo. Que a repetição infinita do trauma se faça cicatriz em meu peito, assim volto sempre a rever o mesmo e único belo necessário fato. Os dedos percorrem avenidas de satisfação e a surpresa de uma curva perfeita se fez e desfez toda a ilusão de uma única punição. Não sinto mais culpa, ela se foi, sou outro, sou o Outro. Sou eu que tanto desejei que sempre esteve fora de mim, no espelho, nos relâmpagos de uma janela, na calçada a ser observado. Eu e ele-eu somos um único ser, posso ser tudo o que for, mas disso eu tenho certeza: sou um só! E a surpresa de também receber o que ofereço é a melhor notícia do vão pelo vão. Esta narrativa, ou borrão, rascunho e medo, é apenas uma lembrança, para a eterna repetição em minhas córneas que um dia se fecharão, eu sei, mas que enquanto não se feche, veja, o abrir dos olhos.

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